segunda-feira, 17 de novembro de 2008

FÉRIAS – UMA PENA

Nada melhor do que férias, uma viagem curta, praia, pessoas diferentes, lugares distantes, toalhas limpas todos os dias, alguém para arrumar a sua cama, uma variedade infinita de livros, muitas idéias na bagagem e o sentimento de que a vida vale a pena.
Mas para sermos um tanto quanto realistas, nem sempre as férias são como o esperado e diferente de que a grande maioria pensa, férias não significam apenas momentos de lazer, fotografias e bumbuns de biquíni, há também uma serie de transtornos e aborrecimentos.
É um lugar entre o inferno e o paraíso... não, não, desculpem me, este lugar é o purgatório e não tem nada haver com férias.
Pois então, férias é o momento em que você esquece a sua vida e tenta viver a vida do ator da novela das 8, o momento em que você vai de encontro com a natureza, com obras famosas e pontos turísticos, mas você não os admira, sequer se interessa por eles, só se preocupa em fotografá-los, e depois sentir o gosto da vingança, mostrando as fotos para o seu cunhado, que fez um álbum personalizado sobre a viagem à França e tem como capa a torre Eifell.
O mais interessante das férias é o processo, na maioria dos casos funciona assim:
Você trabalha o ano inteiro (em alguns casos mais de um ano), economiza em tudo que pode, na água, na luz no gás e ate mesmo na compra da câmera digital, para poder ter as férias que sempre desejou, os 30 dias dos sonhos, dependendo da economia, 20 ou 10, no meu caso foram apenas 5, o que não evitaram os contratempos, apenas diminuíram a intensidade dos conflitos.
Mas, vale a pena!
Depois de trabalhar todo o ano feito um escravo de engenho, decide sair de férias, um lugar que seja do agrado de todos da família, que tenha pessoas bonitas, cerveja gelada, lembrançinhas e espaço na praia, e que tudo caiba perfeitamente no visor da maquina digital que você optou em comprar de segunda mão.
A noite, sentado a mesa, arranca os cabelos, fazendo as contas de quanto poderá gastar na viagem, percebe que deveria ter bebido menos nas tarde de sábado, nas noites de domingo e principalmente nas manhas de segunda, joga os dados e sorteia qual dos filhos ficará em casa com a desculpa de alimentar os gatos.
Mas, você se recorda que não tem gatos!
Depois de varias tentativas sem sucessos, você apela para o suborno e consegue convencer o filho mais novo a ficar na casa da sogra, onde há divertidos jogos de tabuleiros, palitinho e tricô.
- Inicia se uma pequena discussão sobre tricô:
Ele não é um jogo e muito menos divertido.
No aeroporto, tudo novo para quem nunca andou de avião, você insiste que quer ir de janela e demonstra já estar habituado com vôos e afins. Para demonstrar segurança, discute com outro passageiro, ele diz ser o dono da janela, você convicto, a sua poltrona é a de numero 21 (que por sinal é o seu numero da sorte), mas infelizmente não conferiu as letras, você sequer sabia que havia letras, e é obrigado a por a culpa na sua agente de viagens, e alega que o erro todo é dela.
Sem problema algum e sem demonstrar medo ou aflição, viaja as quatro horas de olhos fechados e mãos tremulas, enquanto aguarda uma turbulência para poder contar aos amigos que o avião quase caiu. Depois de 10 minutos da aeronave em solo, você persiste em usar o pára-quedas, nesse momento é retirado delicadamente sob tapas, pontapés e água gelada para sair do estado de choque.
A caminho do hotel, tenta convencer o motorista do táxi a se tornar um guia, faz perguntas diversas e relevantes, do tipo:
Qual o valor da passagem de ônibus?
Como é o nome do prefeito?
Onde fica a praia?
O Motorista apresentando completa animação em ser guia, resume suas perguntas em “sim” e “não”, as vezes demonstra um pouco de interesse e varia em um “talvez”
Você que tem ótima percepção visual, nota que já passou pelo mesmo lugar três vezes, e dessa vez prefere não questionar o taxista - a corrida custa um terço do teu salário mensal.
Mas tudo vale a Pena!0
Depois de deixar as malas no hotel, migra para a praia, um dos filhos que teve sorte de não ser sorteado para cuidar dos gatos, opta em ficar na internet, vendo fotos de mulheres de biquíni, você deixa o segundo terço do teu salário com outro taxista. Resolve que da próxima vez vai voltar de ônibus para o hotel.
Ainda assim vale a pena
Ao chegar à praia. Você se sente no paraíso, onde tudo só pode ser doce e maravilhoso, nisso uma gota do mar pinga em seus lábios e você grita:
- Salgada, a água é salgada, salgada, a água é salgada,
Precedente a sua infeliz brincadeira de sair do mar correndo e gritando:
- tubarão, tubarão, tubarão,
O que gerou revolta geral entre os banhistas e fez com que você forçosamente, bebesse alguns litros de água salgada, enquanto era obrigado a repetir a escalação completa da seleção de 86.
O terceiro terço do salário é gasto em picolés, sorvetes e no suborno para que os banhinhas largassem o teu pescoço e parassem de te afogar.
E isso se repete durante 4 dias
Será que vale a pena?
Neste meio tempo, você já tem um forte sotaque, parece um legitimo nativo, como se os teus antepassados que tivessem sido os próprios pioneiros daquelas bandas, se não fosse pela camisa florida, o chapéu de mexicano e a pela da cor da bandeira da Noruega ninguém diria que é um turista, mesmo você tirando foto de bancos, lixeiras e prédios desmoronados e dos bumbuns que se bronzeiam na praia.
Irrita-se ao ver que a maquina digital tem baixa resolução e imagem escura!
O valor desta pena esta saindo muito alto!
No final das contas você não entende porque um passeio de carroça custa o mesmo valor de uma passagem da capital até o interior, se espanta ao ver que seu filho, (o que passou os dias na internet) tem ainda mais espinhas no rosto.
Hora de voltar, e o que você mais temia acontece nos dois vôos de volta, uma turbulência! de nome Estelinha, tem 7 anos e não se cansa de chutar o seu assento um só minuto, vai do extremo sul ate o centro oeste do país, com chutes ritmados de dar inveja a qualquer cheerleader da NBA.
Na cidade natal, o taxista tenta te enganar no percurso, mas você gruda no pescoço dele e sutilmente sugere para que ele pegue o caminhe mais curto. Já esta cansado de ser tratado como um turista.
Na segunda feira volta a rotina normal e ao trabalho, onde ninguém tem pena, você sem ter um real, já começa a fazer as contas de quanto vale uma pena para um álbum personalizado da França e uma maquina digital de alta resolução.

Um comentário:

Ana Carolina disse...

adoreeei! ahuahauha
seus textos são fiéis à realidade e muito engraçados.

"enquanto aguarda uma turbulência para poder contar aos amigos que o avião quase caiu"

JÁ FIZ ISSO! ahaha